A Grécia Antiga
O relevo fragmentário opunha-se a uma fácil circulação e provocava a multiplicidade
de "países" naturais, freqüentemente minúsculos, reforçando o particularismo
das cidades helênicas. Os recursos insuficientes do solo e do subsolo levaram
os gregos a desenvolver uma intensa atividade marítima; as ilhas do mar Egeu
tornaram-se escalas da rota da Trácia, do Pionto Euxino e da Asia Menor; as
do mar Jônio foram escalas para a Itália e a Sicília. A civilização helênica
estendia-se apenas sobre metade do território da Grécia moderna; a Tessália,
o Épico e a Macedônia foram integrados progressivamente. Em compensação, todas
as terras ganhas pelas migrações e pelos movimentos de colonização (Ásia Menor
e Trácia, Magna-Grécia*) sempre foram consideradas como prolongamentos da própria
Grécia.
Os tempos pré-helénicos. Na época neolítica a Grécia passou por várias ondas
de povoamento; na Tessália descobriram-se, em Sesklo e Dhimini, importantes
vestígios de comunidades agrícolas e pastoris. De 2600 a 1900 a.C., o período
dito heládico antigo corresponde ao do bronze antigo; o conjunto do território
grego povoou-se pouco a pouco, e as relações marítimas com as ilhas do mar Egeu,
estabelecidas há muito, intensificaram-se. A civilização micênica. No início
do II milênio, o mundo egeu foi dominado pela Creta minoana. De 1900 a 1600
a.C. (bronze médio), chegaram à Grécia os primeiros helenos, vindos da Europa
central e dos Bálcãs. Desenvolveram uma civilização vigorosa, dita micênica,
devido à particular importância do sítio de Micenas. Em meados do séc. Xv a.C.,
os micênicos ocuparam Creta e constituíram, na Grécia, poderosos reinos (no
Peloponeso, Micenas, Tirinto, Pilos; na Beócia, Gla). De 1200 a 900 a.C., essa
civilização entrou em declínio e a invasão de novos gregos, os dórios*, constituiu
um dos fatores dessa evolução.
4 A Idade Média helênica (do séc. XI ao VIII a.C.). Referem-se a esse período
obscuro os textos de Homero e de Hesíodo. A arqueologia revelou a extensão do
uso do ferro, o aparecimento de uma nova cerâmica com elementos geométricos
e a prática da cromarão. Um movimento de migração e de conquista levou os gregos
para as costas da Asia Menor. Foi aí, sem dúvida, que se moldaram, progressivamente,
os traços da civilização grega clássica, imediatamente retomados e desenvolvidos
no resto do mundo helênico, e também a organização política e social da cidade
~ (ou polis), em que o proprietário mais poderoso exercia a função de rei (basileus).
Mas uma mesma civilização (língua. depois escrita, deuses e regras morais comuns)
compensou a dispersão territorial
Os tempos arcaicos (do séc. VIII ao VI a.C.). Essa época deve seu nome à arqueologia,
que nela situa as primeiras manifestações da arte grega. Um regime aristocrático
estendeu-se, então, a todas as cidades gregas. A realeza de tipo homérico desapareceu
e uma minoria de privilegiados pelo nascimento e pela fortuna (os eupátridas)
possuía a terra e a autoridade. Do séc. VIII ao VI a.C. um vasto movimento de
colonização levou à fundação de cidades gregas nas costas do Mediterrâneo e
do Ponto Euxino. Essa emigração foi, primeiramente, uma solução para a demanda
de terras por parte dos mais pobres; além disso, estabeleceram-se novos vínculos
comerciais. No final, a colonização, ao modificar as relações econômicas tradicionais,
provocou, nas cidades oligárquicas, um duplo movimento: aqueles que enriqueceram
com o comércio e o artesanato reivindicavam direitos políticos, enquanto os
pequenos camponeses e a mão-de-obra urbana desejavam uma revolução social. Legisladores,
como Sólon em Atenas (início do séc. VI a.C.), encarregados de julgar os conflitos.
redigiram leis escritas, a partir de então aplicáveis a todos (nomoi). A insuficiência
dessas reformas fez surgir uma fórmula política nova: em numerosas cidades,
um tirano era encarregado de toda a autoridade, para reequilibrar as instituições
sociais. Mas os regimes tirânicos, mesmo o que Pisístrato fundou em Atenas,
não puderam resistir à vontade dos cidadãos de assumirem suas responsabilidades
políticas. O valor das instituições elaboradas na época arcaica e a coesão da
cidade manifestaram-se durante as Guerras Médicas (490-479 a.C.). Em Maratona
(490 a.C.), os hoplitas atenienses determinaram a vitória; em Salamina (480
a.C.), os persas foram derrotados por uma frota em que os mais pobres da cidade
serviram como remadores e ganharam, assim, uma nova dignidade.
A primazia de Atenas (479-431 a.C.;.). Com a maioria das cidades do mar Egeu,
Atenas integrou uma confederação ~ marítima, cuja sede ficava em Delos. Destinada
a libertar todos os gregos do jugo persa, essa confederação tornou-se, rapidamente,
o instrumento da hegemonia ateniense. Seu desenvolvimento provocou a reação
das outras cidades gregas, de Esparta principalmente; em 446, a paz dita dos
Trinta Anos reconheceu de fato a divisão da Grécia em duas zonas de influência;
foi apenas uma trégua, mas permitiu a expansão da civilização clássica na Atenas
de Péricles. Durante um breve período (446-431), o helenismo atingiu, em Atenas,
um desenvolvimento que constituiu o apogeu da civilização grega clássica; Atenas,
de fato, pelo esplendor de seus monumentos, por sua fecundidade intelectual,
ultrapassou todas as outras cidades; através de suas reformas políticas, realizou
a mais radical das democracias.
As latas pela hegemonia (431-359 a.C.). A Confederação Ateniense opôs-se à Confederação
Peloponesa de Esparta, que se estendeu também à Grécia central (431-404); essa
Guerra do Peloponeso fez com que se afrontassem um Estado democrático e marítimo
e um Estado aristocrático e continental. A Ática foi arruinada e a classe social
dos pequenos proprietários de terras foi dizimada. Após o desastre da expedição
da Sicília (415-413), a Liga de Delos dissolveu-se e Atenas foi definitivamente
derrotada na batalha de Aigos-Pótamos (405). Esparta, que pretendera libertar
a Grécia da tirania ateniense, apenas a substituiu. Forçada a um compromisso
entre a aliança persa, que lhe forneceu os subsídios indispensáveis, e a proteção
dos gregos da Asia, Esparta abandonou as cidades da Ásia Menor (386). Contudo,
Atenas e Tebas aliaram-se (379) e a vitória de Epaminondas, em Leuctras (371),
pôs fim à hegemonia espartana. Tebas estabeleceu, por sua vez, sua hegemonia
na Grécia continental Ate nas reconstruiu uma confederação marítima. A aliança
de Esparta e de Atenas (369) obrigou Tebas, embora vitoriosa em Mantinéia (362),
a limitar suas ambições à Grécia central. Esse equilíbrio entre cidades hegemônicas
reflete o esgotamento de uma Grécia dizimada por guerras contínuas.
A crise da cidade no séc. IV a.C. A maioria das cidades gregas foi perturbada
por conflitos sociais, conseqüência das guerras. a uma minoria de ricos comerciantes,
de manufatureiros e de grandes proprietários opunha-se o povo, freqüentemente
privado de suas terras e que sofria, em seu trabalho, a concorrência dos escravos.
Todos os filósofos sentiram a necessidade de reformar a cidade (Xenofonte, Platão).
O indivíduo reivindicava seus direitos e sua liberdade contra a lei cívica;
o processo de Sócrates (399) traduz o problema assim engendrado. O mundo grego
sentiu sua falência política: os oradores, Isócrates sobretudo, pregavam a necessidade
da união, e o fracasso das antigas alianças fez com que se pensasse que apenas
um rei poderia agrupar as forças vivas do helenismo.
A intervenção da Macedônia (359-323 a.C.). Filipe II da Macedônia fez de seu
reino uma monarquia centralizada, dotada de um exército numeroso, cujo núcleo
era a falange. Soube utilizar as discórdias das cidades para intervir na Grécia
e dissolver o Império ateniense no norte do Egeu. Após a paz de Filocrates (346),
o conflito assumiu o aspecto de uma luta entre o rei e o orador ateniense Demóstenes,
que organizou a defesa de Atenas e concluiu uma aliança com Tebas. Mas o esforço
de guerra foi tardio e Filipe venceu em Queronéia (338). Encerrou-se, assim,
a independência das cidades gregas. A paz de 338 castigou duramente Tebas e
privou Atenas de sua confederação. A Liga de Corinto deu à Grécia uma nova organização;
as cidades deveriam viver em paz e aderir à liga, cujo generalíssimo (hegemon)
era Filipe.
Com a morte de Filipe (336), uma tentativa de revolta fez com que Tebas fosse
arrasada Os gregos pouco participaram da expedição de Alexandre, que partiu
para libertar as cidades gregas da Ásia. na verdade, ele criou um mundo novo,
cuja base foi a civilização grega.
Da morte de Alexandre à conquista romana. Após a morte de Alexandre (323), a
Grécia, que se rebelou, foi novamente derrotada pela Macedônia (322). Foi, em
seguida, envolvida nas lutas que se seguiram ao desaparecimento do Conquistador,
para ser vencida uma outra vez, f'inalmente, em 277, com a Macedonia, pOI~ Antígonos
Gônatas. Sofreu, entao, os efeitos das múl tiplas crises sociais e os de um
grave des povoamento. Todas as cidades r esistiram ao domínio macedônio. Atenas
pei maneceu um centro intelectual: os filósofos estóicos e epicuristas transformaram-na
no centro de sua escola. Apenas os povos c as cidades da Etólia e da Acaia souteIam
uTIir-se e formaram duas ligas (ou corlfederacões) poderosas: sua constituiqao
conciliou a liberdade com a necessidade doss Estados da época atingirem uma
certa dimensao.
O fim da illdependêzicia grega e do domínio romano. No final do séc. III a.C.,
Roma interveio nos Bálcas e expulsoll da Grécia o rei da Macedônia. Após a vitória
de Cinoscéfalos (197), Flamininus íïngili dar novamente, a todas as cidades
gregas, sua independência [Jogos Istmicos (196)]: na verdade, ele estabeleceu
na Grécia um protetorado exigente; o povo da Acaia, ao ver seu apoio à causa
romana, revoltou-se; Corinto foi destrllída. Esse foi 0 final da independencia
da GIécia. submetida a paItir de entao à vigilància do governador da província
da Macedônia (146). Progressivamente, todo 0 mundo helênico passou para o domínio
Iomano, e a tentativa de Mitrídates para libertar a Ásia Menor e a Grécia (88-84
a.C.) terminou em fracasso. Quando Augusto reorganizou o Império, a Tessália
foi anexada à Macedônia, o Epiro foi confiado a um procurador e o resto da Grécia
constituiu a província de Acaia, sob a administraçao de um procônsul que residia
em Corinto, reconstruída por Júlio César A Grécia tornou-se um conservatório
da cultura clássica No séc. III d.C., os bárLaros voltaram a representar uma
ameaça, mas a reorganizaçao do Império, emproeIldida por Constantino, afastou
0 perigo por certo tempo. A vitória do cristianismo teve, como conseqüência,
a proibigao do paganismo por Teodósio (381): Em 395, os Jogos Olímpicos foram
celebrados pela última vez.